terça-feira, 23 de abril de 2019

Devaneios de um leito de hospital (parte II)



Eu entendo que é inteiramente notável que a felicidade é bem relativa e varia de acordo com quem a descreve. E dando continuidade à série Devaneios de um leito de hospital, pretendo produzir um texto que conte como o caminho da [quase] morte me fez pensar sobre o ser feliz. 



Como eu escrevi no post anterior dessa série, um dos primeiros pensamentos que temos (ou ao menos, a maioria das pessoas) é se aproveitamos a vida devidamente, o que nos leva a pergunta: Será que eu fui feliz? Essa pergunta é agoniante, pois, faz-nos questionar sobre nós mesmos, decisões, atitudes e tudo isso nos inquieta

Nas idas e vindas do pensamento enquanto eu vivia o meu estado de invalidez, eu tive bastante tempo para repensar meus momentos anteriores ao leito e as conclusões foram decepcionantes. Ficou claro para mim que eu não estava feliz. Então, caí no mesmo processo que me levou à resposta da pergunta do texto da primeira parte dessa série, o processo de busca por uma resposta e dessa vez a pergunta era 'o que é felicidade?' e 'por que eu não estou feliz?'.

Se perguntássemos a pessoas aleatórias o que faria elas felizes é certo que teríamos respostas diferentes de cada uma delas. Umas falariam dinheiro, outras amor, uma família que se ama e apoia, um ótimo trabalho... o fato é que cada um se sente feliz a sua medida. Sendo assim, como disse no início do texto, felicidade é relativa e varia de acordo com quem a descreve. Tudo bem, e a minha felicidade?

Eu não vivi uma adolescência/início-da-juventude de inteira liberdade psicológica, havia alguém me dizendo o que fazer, sempre. Eu não tinha liberdade de me comportar ou, até mesmo, pensar ao meu modo e qualquer indício de desvio dos padrões era considerado rebeldia. Pensar é sempre perigoso. E essa situação perdurou por anos, um modo predefinido para falar, andar, se vestir, se relacionar com outras pessoas, mas minha mente constantemente me alertava de que algo estava errado, sem perceber eu sempre me perguntava se era aquilo que eu queria para a vida. Até que o leito me pôs a pensar.

E o que toda essa trajetória tem haver com a felicidade que eu concluí que não possuía? A resposta é que eu não vivia a vida que eu queria viver, não vivia os meus sonhos, desejos, loucuras, escolhas e isso me frustrou. Eu não queria riqueza, inúmeros bens, fama. Eu queria viver sem ser julgado, pensar sem ser condenado, andar em paz. Esse pensamento (Junto com alguns outros) me deu a letra de mais uma música:

"O que você vê como erro
Eu vejo como expressão de um desejo
De alguém como você
Que buscava aceitação em troca de submissão
Mas olha que decepção viver assim
Buscar a paz no outro e esquecer que ela está dentro de mim"

Minha felicidade estava presa dentro de mim, desesperada por se libertar das correntes comumente chamadas de 'padrão'.

Provavelmente, você deve pensar 'e você está feliz agora?', Talvez. Eu estou finalmente vivendo a meu modo. Eu consegui pensar em me chamar de feliz, pois, eu vi minha felicidade em ser EU. E, juntamente com esse presente, veio a paz. Eu andava constantemente perturbado por não corresponder aos padrões impostos à mim e me libertar disso foi redundantemente  libertador.



obs.: Continuarei e concluirei esse capítulo em outro texto.

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