segunda-feira, 15 de abril de 2019

Devaneios de um leito de hospital

Adriano Alves, Devaneio 002.

O receio do fim da vida é presente na mente de todos (embora haja exceções) e não importa a idade, sempre achamos que estamos jovem demais para partir e, mesmo que estejamos velhos, sempre achamos que ainda podemos viver mais, ter novas experiências.

Eu tenho vinte anos e passei por essa experiência de possivelmente encerrar minha história. Não foi nada agradável. Porém, foi bastante... esclarecedor. Me encontrar nessa situação me ensinou coisas importantes que marcaram minha vida e o modo de viver. Quero compartilhar com você alguns dos meus devaneios de um leito de hospital.                                              

Prefiro começar com o pensamento mais comum, creio eu, de alguém que já viveu uma experiência como essa, o sentimento de 'não fiz tudo que eu poderia ter feito' ou 'não aproveitei o bastante'. Geralmente, escutar alguma dessas frases de alguém nesse estado nos leva imediatamente a pensar que ela está se referindo a prazeres sexuais, além de dinheiro, viagens, etc... Mas não estou aqui para trazer juízo a tais pensamentos, pois, eu mesmo os tive. Após pensar bastante sobre 'o quanto eu poderia ter aproveitado da vida antes de morrer' eu percebi que não era sobre as coisas citadas acima em si. Não era sexo, dinheiro, viagens, poder, fama, era, na verdade, a busca por algo que fizesse a vida ter sentido, algo que fizesse a minha vida ter sentido.

Podemos não perceber, mas estamos sempre a procura de algo que dê sentido aos nossos dias. Um amor, riqueza, qualquer coisa que faça sentir-nos completos. E estar naquela situação me fez perceber que eu não estava completo. Faltava algo? Faltava alguém? Faltava algum lugar? Algo faltava, com toda certeza. Mesmo após quase vinte e quatro horas por dia durante dias deitado naquela cama eu não consegui identificar o que eu precisava para preencher esse tal vazio. Me envergonho em dizer que nos dias que tive para refletir não fui capaz de achar alguma resposta (preciso dizer que também sofri com alguns efeitos colaterais de um dos vários medicamentos injetados em minha veia). 

Lembro bem que nessa época eu estava passando por outros conflitos pessoais que envolviam pessoas queridas e isso influenciou para que meu julgamento me levasse a crer que o que faltava em mim era uma pessoa. Logo após essa conclusão passei por algo conhecido por todos como desilusão amorosa. O que só fez minha mente concluir ainda mais que o que faltava em mim era alguém. Mas lembra que eu escrevo? [se você leu o primeiro post ou foi na página 'sobre o blog' você saberá sobre o que estou falando] Pois, sendo assim, eu decidi escrever uma música sobre o que eu estava sentindo e enquanto eu escrevia percebi o que realmente me faltava: EU! Sim, eu precisava de mim mesmo! Me conhecer mais, não negar quem eu era, não tentar esquecer minhas falhas, até porque elas também eram partes de mim. Foi aí que finalmente entendi aquele velho post motivacional de rede social: você não pode dar a alguém aquilo que não tem em si. Eu não me amava, não gostava de mim como eu era e eu não estou falando de aspectos físicos, mas do meu interior, minha personalidade, minhas paixões, meus desejos e vontades, meus medos, limites. Eu não poderia oferecer todo o amor do mundo a alguém se eu não tinha um amor do tamanho de um grão de areia para dar a mim mesmo.

Então eu encontrei a primeira resposta para a pergunta 'O que me falta?'. O que me faltava era me aceitar com minhas falhas e que eu não precisava procurar por nada para me completar porquê eu era o suficiente para que eu me completasse, bastava que eu me abraçasse.
Então a última estrofe da canção que compus fez sentido:

"E se alguém um dia, enfim, pra mim aparecer
Vai achar esse jardim tão lindo que eu fiz pra receber
O amor de quem me ama
Do meu jeito tão bacana
Meio louco de ser
De alguém que se encontrou em si"





obs.: não imaginei que o post ia ficar tão grande. Então achei melhor cortá-lo e postá-lo por partes. Sendo assim, obrigado pela leitura da Parte I. Em breve a parte II

Um comentário:

  1. É linda a forma como conta a sua história e principalmente como relata a sua experiência de auto-conhecimento. É importante que nos aprofundemos mais em nós mesmos e vejamos os verdadeiros prazeres da vida juntamente com o seu sentido real.

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