quarta-feira, 6 de maio de 2020

O Mundo, A Rede e O Rio


 
Hoje eu assisti um filme incrível, Depois do Casamento (After the Wedding). Gosto de filmes que me fazem chorar e, definitivamente, ele fez. Mas não vim pra falar do meu choro: vim escrever sobre uma frase que me marcou enquanto eu me envolvia na história.

Não darei spoilers de coisas importantes do longa, exceto a frase (provavelmente citarei outras frases e situações do filme):

"Estamos andando pelo mundo ou o mundo está passando por nós?"

Theresa Young, interpretada por Julianne Moore, está dando um discurso em seu jantar de aniversário e comenta que seu marido, Oscar Carlson, interpretado por Billy Crudup, perguntou isso a ela enquanto ele dirigia em direção ao local da comemoração. Com humor ela responde: 

"Não pegue a Northern State. O trânsito estará péssimo."

Somos massa de carne com inteligência e emoções que caminham pelo mundo em direção a nossa morte. Fato. Mas o que isso significa? O que a primeira frase diz em meu interior?
Pense num rio, bem agitado, extenso e no meio de uma floresta. O que aconteceria se você pegasse uma rede de pesca e a atirasse no rio? Certamente ele seguiria com a corrente. Seguiria as águas. Rio abaixo... Agora, o que aconteceria se você prendesse a rede de uma margem a outra, da superfície ao fundo, criando uma barreira? Tudo o que fosse trazido pelas águas ficaria preso na rede. Peixes, plantas, lixo, pedra, qualquer coisa... 

"Estamos andando pelo rio ou o rio está passando pela gente?"

Somos rede de experiências, pessoas, objetos, lugares, emoções. Quando andamos pelo mundo tudo isso passa por nós. Criamos um armazém de histórias. Viver é deixar o mundo passar por nós, fazer histórias. Porém há uma "falha" na analogia da rede: em algum momento a rede ficará sobrecarregada e vai romper.
Todos nós quebramos. Às vezes pequenos buracos por onde algumas coisas presas na rede se soltam e segue o fluxo do rio. Em alguns momentos o rasgo é maior e muita coisa se vai. É doloroso. E existe o momento trágico onde toda a rede cede por completo. Acabou. O mundo fez seu último trabalho passando por nós... ele nos arrasou e arrastou...
O mundo nos atravessa a cada momento enquanto vagamos por ele. Cada momento único, palavra dita (ou não dita). Tudo o que vive e que já viveu. O que possuímos e o que jogamos fora... mundo. 
E se o mundo fosse uma prateleira com diversas cores de tintas em latas abertas que despencou da parede e alguém tinha esquecido justamente um pano branco embaixo dela? O pano ficaria completamente manchado e nenhum alvejante tornaria o pano impecavelmente branco outra vez. O pano somos nós. As cores são as experiências da vida. Viver nos marca. Permanentemente.

"Não pegue a Northern State. O trânsito estará péssimo."

Uma resposta humorada, para a complexidade da vida. Não pegue o caminho mais complicado. Já pensou em ir por um rio mais calmo, sem muita coisa sendo arrastada pelas suas águas? 
-Não, eu escolho a agitação deste rio caudaloso mesmo. Obrigada!
-Tudo bem, isso é viver: escolher.

:)

                                                                                                                                                                                        

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